- Êpa, essa viagem foi muito rápida! - Tô com muito calor! Essa roupa laranja é um inferno. - C viu? Quase morreu. Foi um grande estouro. - Os portões da escolha foi aberto. Saiu um monte de gente de uma vez. Encavalou. - Frita pastel e coxinha Rute. - Vô leva esse pilantra no pau! Zé subiu no andaime. Maria chegou na casa de Andreia para cuidar do Pedrinho. Raimundo acabou desistindo de faltar ao trabalho. Laura faltou e comprou um atestado na praça 7. Ninguém aqui é vítima. Ninguém aqui sou eu.

terça-feira, 29 de julho de 2014

GAZA




O mundo em que vivemos hoje é o mundo da velocidade. Boa parcela desta velocidade é fruto do desenvolvimento tecnológico conquistado pela humanidade, fundamentalmente nos últimos dois séculos. Pessoas, mercadorias e informações circulam numa velocidade tão grande que compreender o que ocorre no mundo se torna uma tarefa cada dia mais árdua.

Sabemos, por graça dos milhares de satélites que orbitam sobre nossas cabeças, quase em tempo real, sobre o tufão que arrasa alguma ilha do caribe, sobre o tsunami que varre a Indonésia, sobre a bomba que explode no metrô de Londres, sobre as torres nova-iorquinas que desabam e matam milhares de pessoas, ou ainda sobre o filho do príncipe que acaba de soltar seu primeiro peido real. 

Tudo se tornou muito pior, certamente. Aumentar tanto assim a velocidade da vida traz benefícios para muito poucos. Talvez para uma lógica empresarial, numa época em que somos compelidos a consumir cada vez mais, aumentar a velocidade da linha de produção seja algo bastante vantajoso. 

Para nós, toda essa velocidade e esse desarranjo em relação ao tempo das coisas certamente provoca graves prejuízos. A filósofa Olgária Mattos deu entrevista a alguns anos em que refletiu sobre o tempo em nossa sociedade, e em certa altura da entrevista ela diz o seguinte: “Essa idéia de que você não tem tempo é a forma mais perversa da alienação. Marx já dizia isso, a forma mais perversa não é a alienação do trabalhador com relação ao produto do seu trabalho e ao sentido do trabalho, é a alienação do tempo, você não ser senhor do seu tempo, você é determinado pelo tempo das coisas e não escolhe mais a sua vida. É o que está acontecendo hoje”. (disponível em http://www.notaderodape.com.br/2009/05/entrevista-epreciso-reconquistar-o.html acessado em 28/07/2014).  
 
Dito isso, gostaria de refletir sobre o impacto deste ritmo atroz na nossa capacidade de compreender certos acontecimentos que nos rondam. Na mesma velocidade que uma notícia é veiculada na mídia, ela simplesmente desaparece de nossas vistas para dar lugar a outra tragédia ou catástrofe ao redor do mundo.

Se ontem os meios de comunicação só tinham espaço para informações sobre a Copa da Fifa, hoje só se fala da crise na Ucrânia e do Massacre promovido por Israel na Faixa de Gaza. Ontem no Fantástico (domingo, 24/07/2014) foram exibidas imagens exclusivas (odeio essa expressão, principalmente quando se trata de uma questão tão séria como este conflito) dos mísseis israelenses destruindo alvos civis na Faixa de Gaza. O contrário não foi exibido, porque quase todos sabemos da desproporcionalidade das forças envolvidas neste conflito. 

O problema que precisa ser discutido passa pela velocidade como o assunto é tratado. A superficialidade da cobertura midiática encontra seu ponto de apoio no ritmo alucinante dos fluxos de notícias. Quando paramos para tomar fôlego e refletimos um pouco, temos a oportunidade de ver o quanto esta superficialidade se encontra atrelada à parcialidade das coberturas dos grandes meios de comunicação.

É o tripé do sucesso. Superficialidade – Velocidade – Parcialidade, não necessariamente nesta mesma ordem. Quem puxar um pouquinho na memória (se a memória estiver ruim pode puxar na internet, que pra isso funciona muito bem) vai se lembrar da ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza em 2009. E irá se lembrar que este mesmo exército que hoje massacra escolas e abrigos de refugiados, utilizou bombas incendiárias contra uma população completamente desamparada pelos organismos internacionais e pelos países que mais se dizem os defensores da democracia e da paz. (Aliás, os mesmos que se omitem agora). 

Não sou nenhum cientista política, analista de conjuntura internacional, diplomata ou coisa que o valha. Sou somente um cara, que vê de forma cíclica o Estado de Israel massacrar os Palestinos através de um exército ultra potente que é abastecido principalmente com armas alemãs. (quem diria hein!!!). 

Alguém poderia me dizer a causa de ataques tão violentos? Será mesmo que alguém se esquece de que soldados israelenses são flagrados quase que rotineiramente espancando brutalmente jovens e crianças palestinas? E quem nunca ouviu que estas ofensivas cíclicas ocorrem única e exclusivamente com a finalidade de ocupar a Faixa de Gaza para instalação de colônias de israelenses? 

O problema é que não há debate por causa da velocidade. Amanhã começa um novo conflito e a TV e os jornais passam a transmiti-lo ao vivo para todo o mundo, e aí o conflito entre israelenses e palestinos volta a ser notícia somente daqui a alguns meses, quando se deflagra nova onda de horror. 

Este tempo fugaz, em que a reflexão séria e minimamente imparcial vira piada na boca de babacas estúpidos de shows de stand up´s, reduz tudo a um espetáculo de horror que não permite nem mesmo que as pessoas sintam culpa pelas besteiras que falam, ou pelos partidos que tomam. E tomam muitas vezes de forma irrefletida, já que não há mais tempo pra nada, porque acabou o Jornal Nacional e vai começar a nova novela das nove, que no meu tempo, era a novela das oito.

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